deus te salve sol divino
tu que corres mundo inteiro
se viste lá o meu marido
não mo negues não
e os raios que vens deitando ao teu nascimento
sejam dores e facadas que lhe atravessem o coração
que por mim ele endoideça
que não possa nem comer
nem beber, nem andar
nem amar, nem amar
nem com mulheres falar
nem em casa particular
e todas as mulheres que veja
lhe pareçam cabras negras, bichas feias
e só eu pareça bem no meio delas
lua que te opões alta
não trazes minha mulher
para não sentir-lhe a falta
não me deixes tu morrer
eu lamento por quem sou
Se pudesse eu não viver
e a lua não subir
nem eu ter outra mulher
ai pudesse eu resistir
diz-lhe sol divino
que só amanhã serei
o que ela quiser
A noite desmontava-se sobre a soturna melancolia da paixão, as aves envolviam-se em cantos de alvorada e as árvores vibravam à canção da manhã. O coração de uma mulher sentada no pé de uma árvore, incubava-se nas entranhas do desejo, maior do que a terra, maior até do que o sol que turbava na contemplação do próprio ser. Aquela mulher cravava as mãos na terra fértil e levava à boca o regalado desejo da aurora. Tudo era brilho, carregado da verdade dos génios. A luz da matina trazia a magia da noite, embrulhada em ventos húmidos, quentes e descontrolados. Outrora, aquelas mãos eram mansas. A paixão tornou-as rígidas, severas e intransigentes. Com a manhã chegava o medo da noite seguinte.
Contos de Askabar
Capítulo II: Esconjuro
Com o sol ainda no alto, a mulher levantava as mãos cheias de terra em honra de um deus sem nome. O sol deixava cair sobre a terra a ânsia da paixão, levando até ao outro lado da mesma terra os desejos da insanidade. Cada punhado de terra fértil transformava-se numa maldição. Aquela mulher, sentada no pé de uma árvore, serpenteava palavras de esconjuro e de perdição, pedindo cabras negras e bichas feias para o seu homem. O sol sacudia as nuvens da virtude, apressando-se aos ventos descontrolados. Os ventos tornavam-se secos e frios, e o sol pousava no contorno da terra como uma maldição pousa numa alma. Eram dores e facadas que atravessavam o coração do horizonte.
Contos de Askabar
Capítulo III: Lusco-fusco
O desejo chegava ao outro lado da terra, e com o crepúsculo chegavam as tentações da noite, envoltas num vento húmido e quente. Um homem esposado deixava de o ser, abraçando a luxúria, sujeito aos ossos do esconjuro do outro lado. O homem curvava-se ao asselvajamento da alma, e tornava-se num bicho. As cabras negras e bichas feias tornavam-se belas. Eram moiras que arrancavam a cobiça daquele homem. O lusco-fusco da paixão sucumbia às mãos daquelas mulheres, e assim se iniciava o prazer de uma maldição falhada. Aquele homem não era mais de ninguém. A lua começava a elevar-se no céu desimpedido, e o homem desaguava no ventre da terra.
Contos de Askabar
Capítulo IV: Lamento
A alma daquele homem tornava-se de novo esposada. A lua escalava a cada lamento seu, e os ventos enrijeciam as lágrimas daquele pranto. Pudesse ele resistir à tentação da lua, e não seria um bicho. Pudesse o sol não levantar, e não levaria a melancolia à alvorada do outro lado. A canção da noite ecoava na razão da dor, ao mesmo tempo que grasnava no seu peito a razão do remorso. Mas eram razões fugazes ou efémeras. Ou eram mesmo quimeras. O asselvajamento voltava tão ágil quanto a ilusão do compromisso. Enquanto a noite se amparasse no céu, aquele homem desaguava com as moiras. Não tinha lar, era um homem vazio do dever.
Contos de Askabar
Capítulo V: Porvir
A lua devolvia a luz ao sol, e a melancolia da paixão transfigurava-se. As aves envolviam-se em cantos de alvorada e as árvores vibravam à canção da manhã. O coração daquela mulher sentada no pé de uma árvore, abria-se de júbilo perante o sol que acolhia a paixão. A terra nas suas mãos voltava a ser fértil, e a verdade dos génios atravessava a razão da sua felicidade. A luz da matina trazia a esperança da noite, embrulhada em ventos secos, frios e serenos, como punhais afiados em pedra húmida. As mãos da mulher rebateram-se mansas, e a luz do dia fez brilhar a estrela da manhã.
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